ALENQUER CONTA COM OS CAÇADORES PARA REDUZIR O NÚMERO DE JAVALIS
População poderá já ter ultrapassado os 300 mil animais em Portugal
Os Paços do Concelho de Alenquer receberam um auditório composto e diversificado para realizar um ponto de situação conjunto sobre a presença do javali em território português. O vereador com o pelouro do ambiente no Município de Alenquer, Paulo Franco, acolheu os engenheiros do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), Jorge Monteiro e João Arsénio, que divulgaram o Plano Estratégico e de Ação do Javali.
Este estudo elaborado pelo Centre for Environmental and Marine Studies (CESAM) da Universidade de Aveiro, entre setembro de 2020 e dezembro de 2022, reuniu um conjunto de números e factos relevantes que levam a que a espécie seja gerida de uma forma mais harmoniosa, permitindo que o número da população existente possa vir a ter uma quebra entre 20 a 30 por cento nos próximos 5-10 anos.
"Já chegámos a avistar javalis na encosta do Castelo de Alenquer e este plano terá uma finalidade na monitorização e definição do controlo da espécie. Existiram ocorrências de danos materiais no concelho por parte de uma população de javalis que tende a aumentar. Os caçadores terão um papel importante nesta monitorização. Endereçámos o convite à OesteCIM e os representantes das autarquias disseram presente", exortou Paulo Franco, dando o exemplo do Cadaval ou Torres Vedras.
"Nós não queremos extinguir a espécie. Queremos sim geri-la para níveis que não nos causem qualquer dano. É este o objetivo. Houve receios por parte de comunidades urbanas quanto ao javali. Temos interesse em manter a população sustentável. Este estudo não é um fim em si mesmo mas sim o início da investigação. Espero que possa aumentar a sensibilização pública sobre o javali. Há que perceber também a forma como se comunica [o tema] já que existem pessoas com diferentes sensibilidades e todas percebem a necessidade de se fazerem correções na população dos javalis", constatou o engenheiro Jorge Monteiro, durante a apresentação do estudo. De acordo com os números revelados pelo ICNF, o total estimado de javalis rondará os 277 mil, podendo atingir na hipótese aproximada mais intensiva os 391 mil. Uma marca considerada "alta" e que há que reduzir.
O acondicionamento do lixo doméstico de forma apropriada, a criação de cercas elétricas, a implementação da utilização de substâncias repulsivas visuais, químicas ou acústicas (por exemplo, urina de lobo sintética, rádios ligados ou naftalina) ou a reconfiguração do espaço verde (optando por outro tipo de plantações) na periferia das cidades são medidas que podem mitigar o aparecimento e/ou a reprodução do javali, animal que representa um potencial perigo para a saúde pública.
Marco Raposo, do Clube de Caçadores do Concelho de Alenquer, presente nos Paços do Concelho, lamentou a desinformação sobre esta temática: "O caçador é sempre o responsável por tudo o que de mau se passa na caça". Já Pedro Esteves, da Associação de Caçadores da Freguesia da Carnota, pediu apoios estatais e apontou à "falta de atratividade da caça ao javali". "Temos selos e outras despesas para pagar e tentamos convencer as pessoas a despenderem horas para irem caçar o javali", disse, contabilizando várias plantações de milho atacadas e pedindo para que a caça também se centre nas fêmeas, de forma a evitar a reprodução rápida da espécie.
Paulo Matos, do Serviço Municipal de Proteção Civil de Alenquer, também esteve na discussão e acrescentou um dado. "Somos um concelho de mini-fúndio e temos muitas pessoas que se queixam que as suas propriedades têm prejuízos ou falam de acidentes rodoviários. Queremos também saber como atuar nesta situação", indicou.
A nível nacional, durante 2019 e 2020, 52% dos acidentes rodoviários envolvendo o javali, ocorreram em estradas nacionais, um número absoluto superior a 500 ocorrências nesse item.
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