A VERDADEIRA PANDEMIA
Isto não é negacionismo, bem pelo contrário. Isto é uma constatação terrível. A relação dos portugueses com a verdade em tempos pandémicos deteriorou-se e atingiu níveis de verdadeira calamidade pública. E não, não foi agora com a covid-19 que esta pandemia da mentira nos assolou. Agora apenas se tornou corrente e em muitos casos aprestou-se a substituir a verdade.
A mentira desclassificou-se, isto é, deixou de ter classe, se é que mentir pode ser feito com classe. Mente-se descaradamente sem pudor, desde o Presidente da República até ao mais simples plebeu. A palavra já não passa de um conjunto de sílabas, que se podem martelar a gosto. Não raramente aparecem figuras ou figurões a explicar as mentiras que disseram, utilizando novas mentiras para que a mentira antes proferida, deixe de ser uma para se desdobrar em várias.
Os mentirosos de hoje são venerados, mas antes eram ostracizados pela sociedade. Um mentiroso era uma inutilidade na comunidade. Mentir bem, parece ser uma ciência e muito provavelmente já deve ter sido alçado à condição de licenciatura ou mesmo de mestrado e porque não doutoramento. Não duvidemos que a mentira tem vindo, assustadoramente, a substituir a verdade, seja ela qual for.
PUB.
Na sociedade que ainda conheci, um aperto franco da mão, a palavra de honra dada sob o olhar firme valia mais que todos os papéis rabiscados, selados, autenticados. Era, não tenhamos dúvidas, uma sociedade autêntica por contraponto com a sociedade viscosa em que hoje vivemos, onde precisamos de ter cuidado com as grandes mentiras escritas em letras pequeninas, nos papéis que nos são dados a assinar.
Falar verdade hoje pode ser uma verdadeira tragédia de custos incalculáveis, porque mais facilmente se acredita numa mentira bem urdida que numa verdade cristalina. A relação dos portugueses com a verdade é hoje muito mais grave que o covid ou qualquer outra pandemia. A verdade é dura, de ouvir, de ler, de escrever, de aceitar. A mentira pode ser doce no imediato, mas será sempre amarga quando a realidade se impuser! Não estamos longe….
Artigo de Opinião de Edgard Carvalho Gomes
PUB.
Comments