BENEDITA – A FREGUESIA QUE CALÇAVA O RIBATEJO
Por João Maurício
As memórias não escritas correm o risco de desaparecerem
Por dificuldades económicas, alguns sapateiros da Benedita migravam, quase sempre, para o Sul, por exemplo, Peniche, Bombarral, Almada e para várias terras ribatejanas.
Palmilhavam, cosiam, num ritmo cadenciado. Sentados em velhos, gastos e pequenos bancos de madeira muito baixos, com um avental de couro, faziam longos serões à luz de candeeiros a petróleo que, mais tarde, foram substituídos pelo “Petromax”.
Nas oficinas de sapateiros respirava-se uma espécie de “caos organizado”. O trabalho era duro. No Verão, havia uma bilha de barro com água, tapada com uma rolha de cortiça. Por cima do gargalo, uma caneca para beber.
Na edição de 31 de agosto de 1950, podia ler-se no jornal “o Alcoa” - «A principal fonte de riqueza da Benedita é a indústria do calçado, cuja produção é conhecida em todo o País».
Eram famosas as botas de borzeguim, facilmente adaptadas aos trabalhos agrícolas e à prática da caça, assim como as botas de elástico que tinham duas barras de elástico laterais e que substituíam os atacadores ou correias.
Desde tempos recuados, os sapateiros beneditenses escoavam os seus produtos em feiras e mercados, nomeadamente nas regiões oestina e ribatejana. Destaco a Feira de Todos os Santos, no Cartaxo, a de Manique do Intendente e a de Alcoentre. Era já famosa a Feira de Marinhais, no concelho de Salvaterra de Magos, que se realiza desde 1931. Era aí que os trabalhadores rurais do Ribatejo compravam as botas de cabedal, ensebadas e com cardas na sola, feitas na Benedita.
O produto era, também, vendido na Feira da Piedade, em Santarém e na Feira das Cebolas, em Rio Maior.
O calçado da Benedita começou a ter maior procura, quando foi publicada a “Lei do Pé Descalço”, há noventa e muitos anos, a qual proibia as pessoas de andarem descalças dentro dos centros urbanos.
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