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Periodicidade: Diária

12/22/2024

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BENEDITA PRESTA TRIBUTO À ECONOMISTA MANUELA SILVA



Por João Maurício

Lúcia Serralheiro que foi minha colega na Escola Preparatória da Benedita tem um longo trabalho de pesquisa sobre a condição feminina na sociedade portuguesa. Destaco o seu livro “Mulheres Autarcas e Candidatas a Autarcas no Concelho de Alcobaça de 1974 a 2001”, o qual foi editado pelo próprio município. Colaborou no Dicionário do Feminino, séculos XIX e XX e no Dicionário Contemporâneo Feminae (2014). Possui o Mestrado em Estudos sobre as Mulheres.

O número 38 dos “Cadernos Culturais da Freguesia da Benedita” é totalmente preenchido por um longo trabalho escrito por Maria Lúcia Marques Serralheiro, cujo título é “Mulheres e Desenvolvimento Comunitário na Freguesia de Benedita, tributo à Doutora Manuela Silva”.

Manuela Silva nasceu em 1932, em Cascais. Foi professora catedrática do Instituto Superior de Economia e Gestão e Secretária de Estado para o Planeamento no 1º Governo Constitucional. Condecorada com o grau de Grã Cruz da Ordem do Infante pelo Presidente da República Jorge Sampaio.

Manuela Silva foi a “alma mater” do projeto Desenvolvimento Comunitário na freguesia da Benedita que aconteceu entre 1962 e 1964 e teve como objetivo combater a pobreza e modernizar o tecido económico, nomeadamente nas áreas industriais do Calçado e das Cutelarias. Foram envolvidos vários ministérios, universidades e a Fundação Calouste Gulbenkian.



Este trabalho de Lúcia Serralheiro vem preencher uma lacuna sobre esse projeto, algo aliás referenciado num outro trabalho saído há alguns anos de um outro beneditense. No fundo, o Desenvolvimento Comunitário não é mais do que desenvolver a autonomia da população. O pároco local, na época o Padre Tiago Tomás, e o Padre Mendes Serrazina tiveram um papel importante na concretização desse sonho: o desenvolvimento da comunidade.

Voltemos à Dra. Manuela Silva: mulher de causas, católica progressista, economista e que lutou muito pela justiça social. Esteve ligada à Juventude Universitária Católica. Foi o rosto na luta contra a pobreza.

O mérito do texto de Lúcia Serralheiro é dar voz ao povo, ou seja, foi ouvir as pessoas anónimas que se envolveram nas ações do Desenvolvimento Comunitário. Todas figuras femininas: Lúcia Mateus, Conceição Marques, Hermínia Marques, Gracinda Felizardo, Bernardina Pereira, Glória Couto e muitas outras. São depoimentos simples que ficam como documento histórico. Eram tempos diferentes em que a mentalidade patriarcal estava no auge e que Manuela Silva ajudou a modificar.

O trabalho em causa refere-se a um estudo sobre o tema feito pela investigadora Justina Imperatori que escreveu “Manuela Silva foi uma mulher que soube rodear-se das pessoas certas e sabia apagar-se para pôr as

pessoas a funcionarem em equipa. As coisas eram discutidas, tomavam-se decisões, cumpriam-se objetivos e não era para glória de ninguém”. Este é o outro mérito do trabalho de Lúcia Serralheiro: ter retratado Manuela Silva como uma pessoa discreta, intelectualmente superior, mas que nunca se pôs em bicos de pés, como é apanágio das grandes mulheres. Maior elogio não pode haver!


 

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