EÇA DE QUEIRÓS NO PANTEÃO NACIONAL
Por João Maurício
Fleming de Oliveira, advogado e companheiro nos jornais regionais, acaba de publicar o livro, cuja capa aqui reproduzo. O interessante texto, centrado em Leiria, fala-nos do polémico livro de Eça, “O Crime do Padre Amaro”. Para muitos críticos, este é uma das melhores obras do escritor.
Modestamente, direi que gosto mais de “A Cidade e as Serras” que, para alguns estudiosos da obra queirosiana, é um livro menor!
A Assembleia da República aprovou, por unanimidade, a resolução da transladação dos restos mortais de Eça de Queirós para o Panteão Nacional.
Eça é, para mim, a maior figura da Literatura Portuguesa, senhor de uma obra literária ímpar. Que me perdoem os pessoanos. Ninguém, como ele, retratou tão bem a sociedade portuguesa com as suas virtudes e defeitos, além de ser, também, um excelente jornalista.
Quanto ao livro em questão, recordamos que o escritor viveu em Leiria, e essa realidade levou-o a conhecer bem a sociedade da cidade do Lis. Em 1870, foi nomeado Administrador do Concelho. A cidade era, nesse tempo, muito provinciana, pequena. Eça caracterizava-a como um meio muito beato. Direi que “O Crime do Padre Amaro” foi adaptado pela RTP, numa série de episódios, exibida recentemente. Não foi uma adaptação muito conseguida, mas isso levar-nos-ia muito longe na análise. Eça retrata-nos de forma exemplar a Leiria dos finais do século XIX: rural e retrógrada. Curiosamente, a cidade que eu conheci, no início dos anos sessenta do século passado, tinha ainda alguns restos do retrato queirosiano. Recordo o professor Carlos Reis da Faculdade de Letras que, em Coimbra, nos ensinava com mestria, a ver os detalhes da obra do escritor, em geral.
Eça disse um dia que era “apenas um pobre homem da Póvoa de Varzim”, onde nasceu em 1845. Mas não, não era apenas isso. Era mais, muito mais. Foi e é um enorme escritor que usou o adjetivo e o advérbio como ninguém: um retratista grandioso da sociedade portuguesa. A obra “O Crime do Padre Amaro” foi censurada pelo Estado Novo. Segundo Fleming de Oliveira, essa atitude foi tomada em nome de uma moralidade tacanha e hipócrita.
Eça de Queirós vai para o Panteão, deixando o cemitério de Santa Cruz do Douro (Tormes), no concelho de Baião. Este reconhecimento público engrandece a Democracia e contrasta, pela positiva, com a mesquinhez do antigo regime.
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