INTERIOR DO PAÍS: UMA OPORTUNIDADE PERDIDA?
Artigo de Opinião de Tiago Carrão
As largas dezenas de mortos e feridos, as centenas de casas destruídas e os muitos milhões de euros de prejuízos nos grandes incêndios do Verão de 2017 comoveram o País e obrigaram os políticos e as entidades responsáveis a assumir uma realidade que teimavam em ignorar.
Pedrógão Grande e tantos outros concelhos do interior entraram na ordem do dia e no discurso político pelas piores razões. Do Presidente da República ao Primeiro Ministro, dos Ministros aos líderes partidários, todos proclamaram o interior do País como prioridade nacional. Que era um ponto de viragem, que era tempo de ação. Mas não passaram de palavras de circunstância e ocas. As promessas de então esbarram na realidade de hoje.
Basta visitar o País real para perceber que, apesar de algumas bandeiras erguidas pelo Governo, na verdade, três anos depois, pouco ou nada mudou. A floresta, por exemplo, está a ficar igual ao que era em 2017, dentro de alguns anos será novamente um “barril de pólvora”. Nem a simples limpeza de estradas e matos foi feita.
Os investimentos públicos, a aposta no tecido empresarial, o reordenamento da floresta, a recuperação agrícola e pastorícia, a descentralização de serviços, os apoios à fixação de pessoas, a revitalização do interior. Tudo isto não passou de uma miragem.
O interior do País continua desertificado, abandonado, esquecido. E a hipocrisia de quem nos governa é tanta que essa realidade continua a ser ignorada. Resta a esperança de que os novos tempos que vivemos constituam uma oportunidade para mudar o que tem de ser mudado.
O Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030, elaborado pelo Prof. António Costa Silva, um documento com dez eixos estratégicos, visa ser o referencial para o modelo de desenvolvimento do País num contexto pós-Covid. E o Plano de Recuperação e Resiliência 2021-2026, com as opções e as prioridades para fazer face à crise, que o Governo vai apresentar à Comissão Europeia para recorrer aos fundos financeiros disponibilizados. Dois documentos fundamentais para controlar a pandemia e recuperar o País, um desafio enorme para o nosso futuro.
Mas, dos Planos à execução vai uma grande distância. Esperamos que não se esqueçam de que os efeitos económicos e sociais adversos causados pela pandemia, têm um efeito potencialmente devastador para o interior de Portugal.
É o momento de se honrar as palavras de 2017 e o interior do País ser uma prioridade nacional, assumindo-o como parte integrante do modelo de desenvolvimento de Portugal para a próxima década.
O desenvolvimento da capacidade produtiva, estímulos à coesão territorial e social e à competitividade, redes de transportes que fomentem a mobilidade, políticas industriais, agrícolas e florestais como fonte de criação de riqueza, a tecnologia e a inovação, são áreas vitais para transformar esta importante parte do nosso território.
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Os muitos milhões que aí vêm da Europa são suficientes para os investimentos necessários no interior do País. Mas, honestamente, receio que isso não venha a acontecer, e que seja mais uma oportunidade perdida. Basta ver o tanto que tem sido dito e escrito sobre o nosso futuro, e, ou ando distraído, ou parece-me que o interior do País não está na linha da frente das preocupações dos nossos governantes e dos partidos políticos.
Vejo e ouço muita discussão sobre a boa ou má utilização dos fundos europeus. O fantasma do dinheiro ser canalizado para os mesmos de sempre, através de esquemas mais ou menos fraudulentos e de corrupção. E isto é um mau presságio para discussões que deveriam ser sérias sobre os reais interesses de Portugal e de todos os portugueses.
Espero sinceramente estar enganado e que os meus receios, não passem disso mesmo. E que tenha chegado a hora de apostarmos verdadeiramente no interior de Portugal, para termos um País mais equilibrado, mais coeso, mais rico e mais justo. Caso contrário, só posso concluir que o País não aprendeu nada com a lição de 2017. Até à próxima tragédia!
Tiago Carrão
Vice-Presidente do PSD de Tomar
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