JOSÉ HERMANO SARAIVA, E A NOSSA REGIÃO
Por João Maurício
“Eu lembro-me perfeitamente – era garoto – passava por aqui, isto era uma pequena aldeia … nestes setenta, oitenta anos (Rio Maior) fez-se uma forte cidade”, Professor José Hermano Saraiva, em 2007, no programa “A Alma E A Gente”.
José Hermano Saraiva teve, durante a sua longa vida, uma ligação à nossa região. Nasceu em Leiria, em 1919, viveu na Nazaré e divulgou a maioria dos concelhos que nos rodeiam. Ao acaso, lembro-me dos seus excelentes programas sobre a Batalha, Cadaval, Alcobaça, Santarém, Alcanena, Cartaxo e, claro, Rio Maior.
O programa que realizou entre nós (2007), é um hino à inteligência. Entre outros temas aí tratados, destaco as referências à Azambujeira que, segundo este estudioso, pagou um preço elevado por ser miguelista. O historiador referiu–se ainda à presença romana em terras riomaiorenses e à Anta das Alcobertas. Toda esta prosa tem a ver com o facto de, graças ao orçamento participativo, Leiria ir homenagear o historiador com a colocação de um busto num dos parques da cidade, onde também tem o nome de uma rua.
Recordo que José Hermano já tinha nomes em ruas de: Matosinhos e Palmela. Contestado pela elite da histografia portuguesa, Saraiva foi um comunicador “top” nato, com uma facilidade discursiva gigante, grande divulgador da História em televisão, de uma forma simples, objetiva e direta Fez 976 episódios de divulgação da História de Portugal na R.T.P. Nunca mais existiu um programa televisivo tão popular como o seu.
Figura controversa no seu discurso, mas muito popular, era muito emotivo no seu discurso e chegava com facilidade ao povo que o adorava.
A título de curiosidade diremos que José Hermano foi colega de turma, num liceu lisboeta, do Dr. Calado da Maia, facto que realçou, quando cá esteve. Ministro da Educação, antes do 25 de Abril, foi sempre salazarista assumido. Por isso, no chamado Verão Quente, isolou-se na Nazaré, onde viveu durante alguns meses em verdadeira clausura. Nesse espaço de tempo, escreveu a sua famosa obra “História Concisa de Portugal” sem qualquer acesso a bibliografia. A pequena obra tornou-se um verdadeiro “best- seller”.
Faleceu em 2012, mas a sua figura permanece viva e, por isso, a sua terra natal vai perpetuar a sua memória.Nota final – já n o fim da sua vida (2010), o Professor José Hermano Saraiva, com a sua visão de historiador, num programa transmitido em Abril desse ano, como que fez uma reconciliação com a Democracia. Referiu-se ao 25 de Abril como “uma fase nova da História de Portugal” e considerou o 1º de Maio de 1974 “muito emocionante”. Afirmou mesmo que “a fação de extrema direita do antigo regime não permitiu uma solução pacífica para a questão da guerra colonial”.
De um homem inteligente e com uma visão ampla da História, não se esperava outra coisa.
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