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Periodicidade: Diária

12/22/2024

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O COLÉGIO DO DR. BRANCO



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Por João Maurício

O Dr. Augusto Branco dirigia o Externato /Colégio Luís de Camões, quando no início dos anos sessenta do século passado por lá passei.

Estão espalhados pela região alguns dos colegas da minha turma. Não refiro os seus nomes, porque talvez me fosse esquecer de alguém.

Lembro-me, no entanto, de alguns professores. O Sr. Francisco Calisto era uma figura que impunha respeito: era muito entendido na matéria e disciplinador. A Matemática para ele não tinha segredos. O Professor Feliciano Júnior ensinava Desenho. Com o Professor Manuel Novais Granada aprendemos Geografia. Já não me lembro do nome da professora de Ciências Naturais. A docente de Português, penso que era de Peniche, mas já não tenho ideia do seu nome. Foi, contudo, uma pessoa que me marcou pela positiva. Um dia, fiz uma redação e a senhora, já com a aula terminada, chamou-me e disse-me: -“tu tens muito jeito para escrever”. Foi, por isso, que aquela escola me marcou. As palavras da professora fizeram bem ao meu ego. Li, por aí, que o Colégio Luís de Camões era uma escola de excelência.

Claro que não era. Havia, na verdade, nesse tempo, escolas privadas excelentes. Eram estabelecimentos de ensino, na sua maioria da igreja.

Vivia-se num tempo em que o nosso sistema de ensino era completamente diferente do de hoje. O Externato Luís de Camões cumpriu a sua missão. Foi, aí, que muitos alunos riomaiorenses e dos concelhos vizinhos, nomeadamente Óbidos, Caldas da Rainha, Alcobaça, Santarém e Azambuja, estudaram.

Essa escola foi um impulso para a ascensão social desses alunos. Nesse tempo, o ensino particular não tinha apoios do Estado e, por isso, lutava em muitos casos com problemas financeiros. Mesmo assim, esse setor tinha grande importância. Não havia sede de concelho que não tivesse um externato.

Tudo mudou com Veiga Simão que fez uma forte aposta no ensino público.



O Dr. Branco coordenava uma sala de estudo, onde estavam alunos de anos diferentes e era, aí, que ministrava disciplinas opostas. Ficava espantado com a facilidade com que dominava as “línguas mortas- latim e grego” e com a enorme solidez da sua cultura geral. Percebi, aí, muito bem a importância das chamadas “Humanidades”.

Muitos valorizam o lado divertido do velho professor. A verdade é que o Dr. Branco era muito mais do que isso. Fala-se, hoje, dele pelo seu lado mais típico como, por exemplo, a sua famosa vara. Realço, contudo, a sua simplicidade.

Naquele tempo, ter uma licenciatura em Filologia Clássica era sinónimo de uma sólida formação humanística. O Dr. Branco não teve oportunidade, quanto a nós, de explanar o seu muito saber. De facto, eram muito poucos os alunos de Latim e, ainda menos, de Grego. Nessa altura, o Latim era uma língua falada, quase exclusivamente, pelos eclesiásticos.

O Dr. Augusto Branco era, para mim, um intelectual acima da média. É assim que eu o recordo. Homem do seu tempo, com as suas virtudes e debilidades como qualquer mortal.

Nessa época, não havia nem internet, nem computadores, apenas televisão pública a preto e branco, e as redes sociais nem sequer eram sonhadas. Muitas raparigas começaram a estudar. Os professores tinham um estatuto social diferente dos tempos atuais. Aos rapazes, esperava-os a Guerra Colonial. Os pais faziam um grande esforço económico para os filhos estudarem e os livros eram a preto e branco.

A vida moderna com o seu vaivém nervoso rouba-nos tempo para recordarmos os que já partiram, mas hoje consegui esta exceção.

Com o Dr. Branco, comecei a gostar de Humanidades. Nesta sociedade altamente tecnológica em que vivemos, o estudo das mesmas é, cada vez mais, necessário.

O Professor percorreu quilómetros e quilómetros nos corredores do Colégio, procurando, sempre, resolver da melhor maneira os muitos problemas do dia a dia. Durante a sua vida, viveu intensamente a sua profissão e via-se que tinha gosto pelo ensino e em transmitir aos mais novos os seus vastos conhecimentos. Teve um lugar marcante na vida de várias gerações que passaram por este estabelecimento de ensino.

A História do ensino em Rio Maior não pode, nunca, ignorar o seu nome.

O concelho reconheceu, merecidamente o seu mérito, atribuindo o seu nome a uma rua da cidade, durante a presidência do Dr. Silvino Sequeira.



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