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Periodicidade: Diária

12/22/2024

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O NATAL NA TABERNA DO ELIAS


A Taberna do Elias era multifacetada: servia, também, de mercearia, de posto de socorros e até se podia recorrer aos serviços de uma parteira, a sua mulher Gertrudes que me ajudou a nascer.

O tempo passou, mas ainda me recordo bem da Taberna do Elias, no coração da Benedita, mesmo ao lado da casa dos meus pais.

Lembro-me das vassouras dependuradas, novinhas em folha; do balcão de madeira, gasto pelo tempo, a maquineta de cortar bacalhau, o papel de embrulho e, claro, os frascos de rebuçados. Do lado da taberna, as pequenas mesas, com tampos de mármore. O espaço enchia-se aos domingos e, entre tremoços e copos de vinho ouvia-se o relato do futebol. Às vezes, o Elias, que nessa época ainda não tinha cinquenta anos, fazia curativos, com conhecimentos adquiridos nos tempos em que tinha sido auxiliar de enfermagem no Hospital de Alcobaça. Ao fundo, uma figura em louça do Zé Povinho. Era, também, aí, que se arranjava o serviço de táxi que só trabalhava com a ajuda de uma manivela. O condutor era o filho do Elias.

A Gertrudes aparecia com frequência e, com o seu ar bondoso, saudava a miudagem das redondezas que conhecia desde os primeiros momentos da vida de cada um.



A Taberna do Elias era, sem dúvida, um dos pontos de encontro de sapateiros e trabalhadores rurais.

O Elias tinha uma ligação à Fonte da Bica: era o Martins que lhe vendia o vinho para a sua loja. Era, ainda, agente, na Benedita, da Carreira de Bento Jácome que fazia o transporte de mercadorias, todas as quartas feiras e sábados, entre as estações de Caminho de Ferro de Valado dos Frades e Santarém. Em Rio Maior, o agente era José Machado Sequeira.

Naquela noite de 24 para 25 de dezembro de 1957, a Gertrudes tinha saído, ao início da noite, para ajudar uma mulher a “ter numa boa hora”. As velhotas agasalhadas com velhos xailes já iam passando para a Missa do Galo que ia ser celebrada, pela última vez, pelo Padre Inácio. Já faltavam poucos minutos para a meia noite, quando o Elias fechou a porta, após a saída do último cliente que “já estava bem bebido”.

Ali, estava ele, sozinho; aproveitou o tempo para ler “O Século” que tinha comprado na loja do Almeida. Sentado num velho banco de madeira bebeu um copo de vinho do Porto, porque era dia de Natal. “Passou pelas brasas”, debruçado sobre a mesa. Acordou, já passava da uma da manhã, quando ouviu alguém bater à porta. Era a sua Gertrudes que vinha com um ar muito feliz. Balbuciou: -“Correu tudo muito bem. Nasceu um Menino Jesus. Vai-se chamar Afonso”. Foi, então, que o Elias mostrou um breve sorriso e deixou cair uma fugidia lágrima. Afinal, ele tinha muito orgulho na sua Gertrudes.

Por João Maurício



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