O PAI NOSSO E O TELEMÓVEL
Por João Maurício
Algures na região Oeste, nos finais de agosto, a canícula era demasiado acentuada, numa terra com clima quase sempre ameno, devido à proximidade do mar.
O modesto restaurante onde a comida “light” não entra, estava cheio. Alguns já se despediam das férias. Quando o relógio marcava as duas da tarde, as mesas começaram a ficar vazias.
Eis que, de súbito, entra um grupo de escuteiros muito jovens, vindo da margem sul do Tejo. Eram acompanhados pelos respetivos chefes. O burburinho próprio da juventude fez-se ouvir. Os miúdos, entre alegria e sorrisos, divertiam-se entre si.
Eis que passados uns minutos, chegou um jovem adulto, alto, vestido também de escuteiro. Teria trinta e poucos anos. Dirigiu-se aos adolescentes, e disse-lhes: “não se esqueçam de fazer a oração”. Achei estranho. Só, então, vi que tinha um cabeção. Dúvidas tiradas: era padre e escuteiro. Mais risos. Mal o jovem padre virou costas, todos, de forma instantânea, procuraram a oração nos telemóveis.
Foi, então, que uma miúda morena, que não teria mais de uma dúzia de anos, começou “Pai Nosso, que estais no Céu ...” . E os outros foram atrás. Acabaram todos ao mesmo tempo “mas livrai-nos do mal”. Ninguém disse “Amén”. Missão cumprida. O grupo voltou à brincadeira e à conversa. Antigamente, nós usávamos a palavra “Amén” sem sabermos que já era usada na época dos apóstolos. Hoje já não se usa.
Não sabiam a oração de cor, mas as pequenas máquinas (tão banalizadas), deram uma ajuda.
A minha catequista, que já cá não está, tinha a rigidez própria da época e, por isso, obrigava-nos a decorar a oração e, até, vejam lá, as Bem Aventuranças. Tínhamos, ainda, de dizer, todos os sábados, na hora da catequese, “pequei por pensamentos, palavras e obras”.
O meu tempo era bem mais austero e cinzento. Afinal, o pecado estava ao virar da esquina. E depois vinham as penitências. Era pecado a mais!
O mal é sempre o mal. A verdade é que a noção de pecado varia de país para país e de época para época.
Para aqueles jovens não saberem o Pai Nosso não é pecado.
E assim, vamos estando, cada vez mais, ligados à tecnologia, no nosso quotidiano.
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