O ÚLTIMO COMBOIO DE RIO MAIOR
No Museu Ferroviário do Entroncamento “descansa” uma velha automotora que saiu de Rio Maior, em 1967 e nunca mais voltou!
O último comboio que circulou na linha de Rio Maior é, mais precisamente, uma automotora que está no Museu Ferroviário do Entroncamento. Construída na Alemanha, foi comprada pela Companhia Real dos Caminhos de Ferro portugueses. Servia de tração de comboios de mercadorias e transportou passageiros. Circulava vagarosamente entre 40 e 50 Km. Andou pelas linhas do Norte e de Leste. Nos anos trinta do século passado, circulou entre o Entroncamento e Vila Nova da Barquinha. Reformou-se no Ramal que ia de Rio Maior até ao Vale de Santarém, em 1967. Via-a muita vez entre 1986 e 2005 num pedestal, junto à Estação do Entroncamento, de onde saiu para ficar abrigada das intempéries.
A história dos comboios em Rio Maior está por contar: dava um livro. Referimo-nos ao que foi feito e ao que ficou, apenas, no papel.
Sobre o assunto, transcrevemos um texto da Gazeta dos Caminhos de Ferro, edição de 1 de Novembro de 1943:
«Um problema urgente. A Construção da Linha de Rio Maior e do Ramal de Peniche.
Com o título acima, apresentou o nosso colaborador António Montês, ao I Congresso das Actividades do Distrito de Leiria, recentemente realizado, uma Tése a todos os títulos interessante, pois fóca um problema que muito beneficiará a economia nacional.
Quem conhecer a linha do Oeste, e consequentemente o seu movimento de passageiros e mercadorias, pode avaliar as vantagens trazidas com a construção da projectada linha, que atravessando a região mineira de Rio Maior contribuirá poderosamente para o desenvolvimento duma região de grande importância.
Os estudos feitos, que incluíam a chamada «Linha de Rio Maior» e o «Ramal de Peniche», levaram a primeira do Setil a Rio Maior, desviando- -se depois para Santa Suzana, Landal, A dos Francos, e depois de ladear o Vale de Arnoia, acabava por entroncar com a linha férrea de Oeste entre as estações de Óbidos e Caldas da Rainha.
Pelo que respeita ao «Ramal de Peniche», o mesmo deveria inserir na linha de Oeste pela altura da Dagorda, sendo o traçado Óbidos-Caldas da Rainha, comum à linha de Oeste.
A chamada «Linha de Rio Maior» teria a extensão de 60 quilómetros o comprimento do «Ramal de Peniche». Conquanto o decreto nº 12.103 tenha sido publicado há dezassete anos, e os estudos do traçado se encontrem concluídos, não foram até agora iniciados os trabalhos de construção. Em 19 de Setembro de 1942, o Diário do Governo publicou o decreto nº 32.270, que trata da construção da «Linha Mineira de Rio Maior» e o art. 40º desse decreto manda a «Comissão Reguladora do Comércio de Carvões» proceder, por sua conta, à construção dum caminho de ferro de via larga entre Vale de Santarém e Rio Maior, de um cais fluvial na vala de Azambuja e ainda de todas as vias de acesso necessárias ao transporte de lenhites.
Com a construção da linha mineira de Rio Maior, está dado o primeiro passo para a transversal que ha-de ligar a Linha de Leste à Linha de Oeste. Impõe-se agora o prolongamento até Peniche, e na impossibilidade, dada a dificuldade de aquisição do material ferroviário, pelo menos até às Caldas da rainha, , o que permitirá a ligação da linha de Oeste com as de Leste, Norte e Sul e Sueste.
A tése do nosso amigo e colaborador António Montês terminava com a apresentação de várias conclusões, nas quais se alvitrava o pedido ao Govêrno da Nação para a construção das linhas indicadas, começando pelo trôço Caldas da Rainha-Rio Maior, uma vez que, dentro de meses, está concluído o trôço Rio Maior-Vale de Santarém».
Nota final – O sonho de construir uma linha férrea entre Rio Maior e Peniche tem mais de um século. O deputado caldense Maldonado Freitas foi um grande defensor desse projeto. O assunto, após o encerramento da linha férrea entre Rio Maior e o Vale de Santarém, foi completamente esquecido.
O tema foi recuperado pelo governo de José Sócrates. Depois disso, nunca mais esta questão voltou a ser referida.
Por João Maurício
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