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12/22/2024

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O ÚLTIMO LOBO NOS CASAIS MONIZES


O redil deixou de ter utilidade em 1936 e os uivos dos lobos nunca mais se ouviram!

António Feliciano era alfaiate e no distante ano de 1936, deslocou-se com o filho António Feliciano Júnior aos Casais Monizes tirar medidas a clientes para alguns fatos. Os serranos queriam aperaltar-se para um casamento que se aproximava.

Na pequena aldeia não se falava de outra coisa – alguns populares do povoado tinham avistado um lobo! Nunca mais aconteceu nada parecido por aquelas paragens.

Feliciano Júnior tinha doze anos e era uma criança curiosa. Enquanto o pai fazia o seu trabalho, afastou-se sorrateiramente e foi ver “o redil do lobo”.

Nessa época, a principal (e quase única) riqueza daquela agreste zona eram os rebanhos e, por isso, havia por parte das populações locais, a preocupação de proteger os animais contra os ataques do predador-mor: o lobo!

Manuel Vieira Natividade no seu livro “O Povo da Minha Terra”, editado em 1917, refere a existência na Serra dos Candeeiros, de “redis com defesas anti-lobo”.

No fundo, eram currais circulares, construções simples e rudes, com paredes de pedra solta cuja altura, por vezes, ultrapassava os três metros. Os corredores eram estreitos com inclinação que se ia afunilando na parte final. Havia aí, depois, um pequeno espaço mais largo onde era colocado o “isco” – um cabrito ou um cordeiro. O lobo faminto, atraído pelo cheiro da “presa”, entrava no labirinto de onde já não conseguia sair. Devido à estreiteza do corredor, também não lhe era possível chegar à tão desejada presa. Era o momento esperado! Alguns populares com tiros de caçadeira não davam hipótese de fuga ao animal que se encontrava encurralado.



António José Gonçalves Coelho, na edição de julho de 1983, do atualmente extinto “A Voz de Alcobaça”, refere-se ao redil dos Casais Monizes que tem “a particularidade de se encontrar no meio da povoação. Por isso, apela à sua conservação. O texto é ilustrado com uma fotografia de fraca qualidade do redil, pelo que não dá para perceber o seu estado de conservação.

António Feliciano e o filho regressaram aos Casais Monizes, alguns dias depois, para entregar os fatos. No dia do casamento, após o ato religioso, houve foguetório e uma saraivada de confeitos. Seguiu-se uma modesta boda e, depois do jantar, bailarico abrilhantado por um acordeonista vindo de fora.

Apareceu a aldeia inteira. Os que não tinham sido convidados, foram contemplados com oferta de nozes, pão e um bolo dos noivos em forma de ferradura. Já a noite ia alta, quando a festa acabou. Durante a tarde, as conversas entre copos de tinto e pirolitos, ia sempre dar ao mesmo: o lobo avistado um mês antes.

Fechava-se assim um ciclo da vida coletiva: após séculos em que fora uma presença frequente naquela serra, o animal selvagem viera como que despedir-se daquelas gentes!

O redil deixou de ter utilidade e os uivos dos lobos nunca mais se ouviram!

Por João Maurício



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