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Periodicidade: Diária

12/22/2024

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OS CASAMENTOS EM CASAIS MONIZES HÁ CEM ANOS


“Os casamentos celebravam-se quase sempre à quarta-feira, muitas vezes ao sábado, nunca à terça nem à sexta-feira. Em regra, os esposados vão viver em casa própria, que ele mandou construir, e que a noiva, como apêndice ao enxoval, provê de mobília e utensílios.

Antes de se matrimoniarem, os nubentes confessam-se e comungam, depois de fazerem o seu exame de doutrina cristã.

Na manhã do dia das núpcias, o noivo, seus padrinhos e – se é de estrondo o casamento – grande séquito de convidados, vão buscar a noiva a casa dos pais e, aí, almoçam. À saída, pede ela a bênção a sua mãe e despede-se, lacrimosa, dessa grande amiga, das pessoas do seu convívio, do ninho onde se criara. E partem daí todos para a igreja. Noivo e noiva caminham respectivamente ladeados pelos seus paraninfos, que vão sempre munidos de confeitos para a rapaziada.

O aludido acto de ir buscar a noiva é sujeito a variantes. Em alguns povoados da região serrana procedia-se, ainda não há muitos anos, assim: o Noivo, acompanhado dos seus, batia à porta. Perguntavam-lhe de dentro, as madrinhas:

- Que vem buscar?

- Honra e brio.

- Entre, que tudo isso encontrará.

Nos Casais Monizes, (Serra de Albardos), quando batem à porta, o pai da noiva pergunta:

- Quem é?

- Gente de paz. Está cá … (diz o nome da prometida).

- Não, senhor, foi para … (A fazenda que ele tenciona dar-lhe). Que é que vossemecê quer?

- Uma rosa em botão,

Criada no seu jardim,

Para ser minha esposa

Para sempre, sem fim.

A porta, então, abre-se, a noiva aparece e, juntos os de dentro com os de fora, lá vão todos a caminho da igreja.

Noutro lugarejo da mesma serra, à chegada da comitiva, a noiva, recolhe-se com as madrinhas a um quarto escuro, sendo proposto ao noivo ir lá buscá-la. Esta, anuindo, entra no quarto, faz a destrinça por algum sinal previamente combinado, e sai para fora com a sua dilecta. Mas, pouco perceptível, às vezes, esse sinal, podem criar-se alguns quiproquós, sem muito comum ver-se a cara de espanto do noivo, que em vez da sua pequena, traz uma desajeitada velhota, perdida de riso.

Ao acto religioso, segue-se o repique dos sinos, o foguetório e a saraivada dos confeitos. Esta repete-se a intervalos, por todo o dia, havendo às vezes, entre padrinhos e madrinhas, bem sustentadas refregas. Encaminham-se, depois, todos a casa dos noivos, fechada nessa ocasião”

Quando chegam, a noiva, postando-se no limiar, dá aí esta fala:

- «Tenho muito que agradecer aos meus padrinhos e às minhas madrinhas, e a todas as mais pessoas que fizeram favor de me acompanhar da casa de meu pai até à igreja e da igreja até minha casa». Depois, tomando a chave que o noivo lhe oferece e abrindo a porta, diz:

- Façam o favor de entrar. E entra ela primeiro, seguindo-a toda a comitiva. É, como se vê, um acto ostensivamente possessório.

À mesa, que já estava posta e é formada por tábuas móveis, os primeiros lugares são ao meio dos lados maiores do quadrilátero. Aí se sentam os noivos, em frente um do outro. Ele, entre os seus padrinhos; ela, no meio das suas madrinhas. Os outros lugares ocupam-nos indistintamente os demais convivas.

“Depois do jantar, há bailarico, aonde acorrem, mesmo sem convite, muitas pessoas que querem espairecer … e manducar, pois aí todos são chamados, por turmas, à mesa do festim, e a todos é também oferecido, pelo menos, um bolo (o chamado bolo da noiva).

A noiva, essa recolhe ao quarto nupcial com as suas madrinhas, e aí recebe as pessoas que a vão felicitar.


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O primeiro domingo depois do dia da boda é, também, dia de festa. Os cônjuges vão à missa acompanhados de seus padrinhos e convidados. Ao sair da igreja há tiroteio de confeitos e, depois, em casa dos noivos, jantar, bailarico … tudo como no dia do consórcio.

É este o dia das folhadas, que assim se chamam os presentes que aos noivos oferecem não só os que assistiram à função como também aqueles a quem os recém-casados, directamente ou por interposta pessoa, brindaram com algum dos tais bolos».

Os aldeões deitavam foguetes como demonstração de regozijo. Nesse tempo de pobreza, à população que não era convidada para os casamentos, “era da praxe servir-lhe pão e nozes”. Os bolos de noiva eram em forma de ferradura, com os seus cordões, entrelinhas e lacetes, iguais aos das fogaças oferecidas aos santos. Quanto às folhadas, eram em dinheiro ou em géneros: cereais, legumes, etc.

Notas finais - Este texto foi, em grande parte, retirado da obra “Turquel Folclórico”, de José Diogo Ribeiro, um livro editado em 1928, em Esposende, pela “Livraria Espozendense Editora” (ortografia da época).

Como curiosidade, direi que Diogo Ribeiro era irmão da sogra do Dr. João Afonso Calado da Maia.

O livro retrata os usos e costumes de várias áreas da nossa região, nomeadamente os das gentes da Serra dos Candeeiros que outrora se chamava Serra de Albardos: o fabrico do pão, a apanha da azeitona, o traje, o entrudo e os bailaricos.

José Diogo Ribeiro foi professor primário e um estudioso da etnografia regional, da zona sul do concelho de Alcobaça e de algumas zonas da freguesia de Alcobertas.

Pela pureza e simplicidade, pela riqueza singela destes textos, tem o pelouro da Câmara Municipal de Alcobaça, o dever de reeditar os pequenos livros de José Diogo Ribeiro.

José Diogo foi um ilustre turquelense um pouco esquecido.

Por João Maurício


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