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Periodicidade: Diária

12/22/2024

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REFLEXÕES SOBRE “BILHETE POSTAL”


Por João Maurício

Os jornais regionais em papel, ao contrário do que se diz, não vão acabar. Todos sabemos que muitos desapareceram, mas alguns resistem. Não é preciso ir muito longe para encontrar essas exceções: uns já são centenários, outros estão à beira de o serem. É o caso do Correio do Ribatejo, o Região de Leiria e a Gazeta das Caldas. A rádio não acabou, quando apareceu a televisão.

É verdade que o tempo áureo dos jornais em papel já passou, mas eles vão continuar a existir, tendo por alvo algum grupo de leitores minoritário.

O Região de Rio Maior, nascido em 1988, chegou a ser um jornal bem vivo. Destaco, hoje, daquela pequena equipa, António Feliciano que fora meu professor. Insistia sempre que eu o tratasse por “tu” e eu nunca consegui, apesar de termos sido colegas de trabalho, na Escola Secundária.

A sua secção “Bilhete Postal” saía, semanalmente, e era sempre recheada de assuntos variados que agradavam muito ao povo anónimo. Como Feliciano Júnior conhecia muita gente, os assuntos nunca faltavam. Tudo girava à volta das questões do quotidiano, as chamadas “questões menores”, mas que, nem por isso, eram menos importantes. Havia sempre de que falar. No fundo, era o apontar do que estava menos bem cá no burgo ou no concelho e que é comum, infelizmente, em todas as terras de norte a sul do País.

Era o contentor que faltava, a recolha do lixo que, às vezes, chegava atrasada, as passadeiras de peões que não eram pintadas, as fugas de água da rede pública que não eram reparadas, as árvores que não eram regadas nem podadas, os sinais de trânsito que estavam gastos pelo tempo e que se tornaram invisíveis, as sargetas que não eram limpas e muito mais …

Mas era, também, uma pessoa que sabia fazer elogios.

Feliciano era uma pessoa muito atenta e que, quando as situações eram reparadas, tinha sempre o cuidado de o referir.

Era o chamado “jornalismo de proximidade”, quase um “serviço público”. Nisso, Feliciano Júnior era um mestre.

A sua escrita era elegante, simples, discreta, objetiva e procurava não ferir ninguém. Pessoas como ele fazem falta ao jornalismo local. Ele era a voz de quem não gostava ou não queria expor-se. Tinha, como bom católico que era, um grande cuidado em medir as palavras, e ser correto e suave na crítica: era mais conselheiro do que crítico.



Hoje, em alguns meios de Comunicação Social, impera a mediocridade e o vazio de ideias. Apenas um exemplo: se o Presidente da República vai comprar um gelado ou ao multibanco, é notícia de primeira página. Como se isso fosse algo importante para o País … É, isso sim, o espelho da vulgaridade. Tais atitudes são sinónimo de imaturidade, falta de senso e de assunto.

Temas de fundo, como a crise da habitação, a emigração dos jovens qualificados, propostas para que o setor da saúde funcione melhor, a crise na igreja, a diversificação das receitas para a Segurança Social são, geralmente, assuntos ignorados. Quando não o são, salvo raras exceções, são tratados ao de leve.

Faço minhas as palavras do grande escritor brasileiro Machado de Assis, que escreveu no Diário do Rio de Janeiro, a 1 de novembro de 1861, no estilo vindo do outro lado do Atlântico “Em nosso país a vulgaridade é um título, a mediocridade um brasão”. Sábias palavras.

Por tudo isto, tenho saudades do “Bilhete Postal”, de Feliciano Júnior.



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