RIO MAIOR E A EMPRESA CAPRISTANOS
Arthur Capristano era daquelas pessoas que encontramos muito poucas vezes na vida: líder, austero, sonhador, imaginativo, empreendedor, mas, ao mesmo tempo, realista, visionário, rigoroso e ativo. Um homem que se preocupava muito com o bem estar dos trabalhadores.
É espantoso como é que, quem nasceu no século XIX já era tão moderno!
Arthur nasceu em Alcântara a 3 de dezembro de 1879. Começou por ser mecânico de automóveis. Foi dos primeiros portugueses a tirar a carta de condução (nº 26) e “chauffer” do rei D. Carlos, tendo-o acompanhado em várias visitas pela Europa.
Casou já tarde e, por isso, fixou-se na terra da esposa, no Peral (Cadaval), em 1925. Tinha uma taberna e, em simultâneo, transportava o correio entre a estação de comboios do Bombarral e o Cadaval. Passou, também, a ser motorista de Ramiro Magalhães, um grande comerciante de vinhos do Bombarral. Depois, comprou uma camioneta de carga, em segunda mão, e passou a fazer o transporte, aos domingos, durante o verão, de passageiros entre o Bombarral e a Praia da Consolação. Fazia, ainda, o transporte do correio e mercadorias entre a estação de comboios de S. Mamede e Peniche.
Em 1933, fez sociedade com Joaquim Ferreira dos Santos e fundaram a empresa de transporte de passageiros Capristanos & Ferreira, tendo estendido o seu negócio à Lourinhã e a Torres Vedras.
Uma década depois, separa-se do sócio e cria a Empresa Capristanos. Manteve a sede no Bombarral, onde chega a ter 250 trabalhadores. Em 1949, muda-se para as Caldas da Rainha e abre filiais em Alcobaça, Leiria, Alcoentre, Bombarral, Lisboa, Rio Maior, Nazaré e Torres Vedras.
Um anúncio dos Capristanos publicado na revista Ilustração Portuguesa, de dezembro de 1944, diz-nos textualmente «Antigamente viajar era um sacrifício não só pela demora, como pela falta de comodidade. Hoje, a rapidez e a comodidade conjugam-se nos magníficos autocarros da Emprêsa de Camionagem Capristanos». No auge, a empresa teve 500 trabalhadores.
Arthur morre em 22 de julho de 1967.
Sobre a presença da empresa em Rio Maior há poucos dados. Sabemos, contudo, que a Capristanos & Ferreira já operava em Rio Maior, Alcanede, Alcoentre, Alto da Serra, Asseiceira, São João da Ribeira e Santarém.
Fernando Duarte, na obra “Rio Maior – Estudo da Vila e seu Concelho” (1951) diz-nos que neste concelho operavam as empresas Capristanos, Vinagre e Claras e as ligações eram:
Santarém-Peniche / Santarém-Nazaré / Santa Catarina-Lisboa / Rio Maior-Setil / Rio Maior-Alcanede /Rio Maior-Santarém /Rio Maior-Lisboa.
Não especifica, porém, a quem pertencia cada itinerário.
A 19 de dezembro de 1961, a Empresa foi vendida aos Claras. Como nota pessoal, direi que ainda viajei nos Capristanos, embora poucas vezes.
Os filhos Artur e José continuaram a obra do pai. A Capristanos apoiou muito o Caldas Sport Clube, tendo a sua equipa de futebol militado na primeira divisão, entre 1955 e 1959. Artur (Filho) veio a ser Presidente da Câmara Municipal da Caldas da Rainha, após o 25 de Abril.
Notas finais – encontrámos pouca documentação sobre a presença da Empresa Capristanos neste concelho. Há, contudo, dados a vulso que não nos permitiram ir mais longe. Cito um exemplo: em 1945, na Assembleia Nacional foi discutida a criação de uma carreira de passageiros entre Rio Maior e as estações de comboios de Santarém, com passagem por Fráguas, Alcanede e Tremês.
Do que não temos dúvida é que a Capristanos contribuiu muito para o desenvolvimento económico do concelho de Rio Maior, durante décadas, já que facilitou a circulação de pessoas e mercadorias, no tempo em que a maioria não tinha transporte próprio.
Notas - foto retirada, com a devida vénia da pág. 59 da obra “Oficinas de Automóveis nas Caldas da Rainha (1920-1987)”.
O autor é José Augusto Pimentel. A edição é do Património Histórico – Grupo de Estudos – 1999. Curiosamente, a Impressão foi feita na Grafiartes – Rio Maior.
Este livro é, hoje, uma “relíquia” dado que foram feitos apenas 500 exemplares.
A fotografia está “gasta pelo tempo” e, por isso, tem já pouca qualidade. Por se tratar de um “documento histórico”, optámos por, mesmo assim, publicá-la.
O autor refere-se à idade do autocarro, mas não à da fotografia. Na minha opinião deve ser dos finais da década de quarenta do século passado, data em que “Os Capristanos” começaram a operar em terras de Rio Maior.
Por João Maurício
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