RIO MAIOR E A ESTRADA D. MARIA I
Por João Maurício
I
Seria algo panfletário dizer que foi a Estrada D. Maria I que colocou Rio Maior no mapa. Contudo, a afirmação tem um fundo de verdade.
Rio Maior sempre teve uma excelente situação geográfica. Ponto nevrálgico do sul da região centro, a dois passos de Lisboa, a pouco mais de uma centena de quilómetros de Coimbra, e perto do mar. “Ponto de encontro entre o Ribatejo e o Oeste”, como escreveu Fernando Duarte.
Por cá, “passaram” importantes vias, desde tempos imemoriais. Até existiu uma alternativa ao chamado Caminho de Santiago, no sopé oeste da Serra dos Candeeiros. Os peregrinos passavam por aqui e tinham os castelos de Porto de Mós e de Leiria, como referências geográficas na sua caminhada para norte.
Ao acaso, cito a variante mourisca que passava na zona do Arco da Memória e, depois, Venda da Costa, Benedita, Évora de Alcobaça, Chiqueda, Aljubarrota, Calvaria, Golpilheira e Leiria.
Em 2011, Ricardo Charters D’ Azevedo lançou o livro “A Estrada de Rio Maior a Leiria, em 1971”. Nascido em 1942, Alto Funcionário da Comunidade Europeia, Professor da Academia Militar, já aposentado, é autor de várias obras de cunho histórico sobre Leiria, Porto de Mós e, também, estudioso da temática das Invasões Francesas, na nossa região.
O investigador veio até Rio Maior, apresentar a sua obra, mas a mesma foi quase ignorada. A sua feitura começou, quando o autor foi abordado pelo Professor António Borges da Cunha, que lhe chamou a atenção para o mapa topográfico existente no Instituto Geográfico Português, mandado levantar por ordem de D. Maria I, em 1791, com o fim de determinar o percurso da Estrada Real, desde a Serra de Rio Maior a Leiria.
Poucas pessoas saberão que foram estudados três eventuais traçados da estrada, na nossa zona. A opção final foi objeto de estudos aprofundados.
O bem elaborado mapa é minucioso. Aí, encontrámos alusões aos lugares abaixo indicados e referenciados no mesmo e que, já na época, pertenciam, uns à freguesia da Benedita e outros a Rio Maior.
São os seguintes:
Ninho de Águia, Cabeça da Lagoa, Casal da Cruz, Mata, Frei Domingos, Vale da Costa, Venda do Vintém, Moita do Gavião, Casal da Charneca, Quinta do Retiro, Casal do Guerra, Algarão, Fonte Quente, Rato, Taveiro, Poço dos Candeeiros, Benedita, Casal do Outeiro, Lagoa, Casal do Gregório, Boavista, Junqueira, Casal da Estrada, Freires, Serra de Rio Maior, Arco da Memória, Venda da Natária, Vale dos Castelhanos, Capa Rota, Venda da Costa, Vale Longo, Olhos de Água no Inverno, Cabeça do Gonçalo, Alongra, Casalinhos, Casal da Fisga, Vale da Fisga, Pinheiros, Zambujeira, Cabeça da Perguiça, Casal do Haver.
Respeitámos a ortografia da época.
Como se pode ver, não aparece nenhuma referência ao lugar de Venda das Raparigas, porque, na minha opinião, o lugar não existia no século XVIII. Algumas dessas povoações, atualmente, já não existem ou têm outro nome.
Nota – Fala-se, agora, na criação da chamada Rota da Estrada D. Maria I. Recordamos que alguns troços entre Rio Maior e Leiria foram absorvidos e “transformados” pela EN1, pomposamente classificada de IC2. Existem, contudo, alguns traçados, nomeadamente no concelho de Rio Maior que respeitam, ainda, as “linhas rodoviárias” iniciais.
(Continua)
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