RIO MAIOR E AS LINHAS DE TORRES
Por João Maurício
II (Conclusão)
Em 6 de outubro fará, duzentos e treze anos que Wellington enviou de Rio Maior, onde se encontrava, ao seu subalterno, o tenente coronel Fletcher, um memorando sobre a distribuição das tropas anglo-lusas nas Linhas de Torres.
Wellington foi o comandante das forças militares em campo que venceram o exército de Napoleão. O general, com a sua equipa, criou as Linhas de Torres, tendo sido, dentro dessa área e num curto espaço de tempo, edificadas 152 obras militares, montadas 600 peças de artilharia e instalados 140.000 militares. O grande objetivo era defender a cidade de Lisboa. Aí, foi recolhida alguma da população da nossa região, incluindo quase todos os párocos.
Wellington e todos os seus militares montaram uma verdadeira máquina de guerra. Por exemplo, na Praia de Santa Rita (Torres Vedras), fizeram desembarcar muito apoio logístico, vindo de Inglaterra: cavalos, rações, armas e víveres.
Da edição 16 dos “Cadernos de Estudos Leirienses” (maio de 2018), transcrevemos o extrato seguinte:
«Combate em Rio Maior (19 de Fevereiro de 1811)
Tendo-se acentuado a falta de víveres no Exército de Massena, foi mandado sôbre Rio Maior um destacamento francês sob o comando do Marechal Junot, composto por 3.000 homens com 500 cavalos, o qual tinha a missão de se apoderar de um depósito de vinho e trigo que os anglo-portugueses ali tinham estabelecido. Os postos avançados das fôrças aliadas que ocupavam esta povoação retiraram para dentro da mesma, onde seguidamente se travou um violento combate que deu tempo a que chegassem reforços com auxílio dos quais o inimigo foi forçado a abandonar Rio Maior e a retirar para Alcanena. Nesse combate, em que foi ferido o próprio Junot, cobriu-se de glória o bravo Batalhão de Caçadores 6 que com o seu brioso procedimento contribuiu mais uma vez para o bom nome das armas portuguesas».
O depósito de vinho e trigo que existia em Rio Maior, tinha muito mais do que isso: tinha víveres, armas, fardamento e ração para cavalos.
Rio Maior tinha uma logística de apoio aos homens que estavam na linha da frente. No fundo, situava-se aqui, um Depósito de Armazenamento que foi criado por Wellington. Servia de apoio ao eixo dos combates que aconteciam a norte, até Leiria, e para nascente, até Santarém e, ainda, outras localidades como Alcanena e Alcanede. Não era fácil fazer chegar os mantimentos ao armazém~, principalmente, quando vinham do estrangeiro. Havia, também, a parte burocrática. Levar os mantimentos para a tropa que estava nos campos de batalha exigia planeamento e uma logística complicada. Os militares usavam machos. Recorria-se, também a civis, nomeadamente, os almocreves que eram pagos para esse efeito. Para as cargas mais pesadas utilizavam-se carros de bois. Havia, ainda, o Real Comboio de Abastecimentos: eram 120 carruagens puxadas por cavalos.
Toda esta logística teve um grande apoio financeiro do Governo Britânico. Nesse tempo, Portugal estava na penúria. Após as invasões francesas, os Britânicos apoiaram muito os agricultores portugueses com oferta de sementes e gado.
Nota final – há uns anos, o Professor Doutor António Vicente, grande especialista nesta área, esteve entre nós, onde proferiu uma interessante palestra sobre o tema. A organização do evento ficou a dever-se ao Centro de Estudos Riomaiorenses. Foi com tristeza que vi o fim dessa instituição que teve curta vida. Teria sido um meio de divulgar a História de Rio Maior.
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