RIO MAIOR E O MOVIMENTO MILITAR DO 28 DE MAIO DE 1926
Rio Maior terá sido a primeira localidade a ser tomada pelos revoltosos.
“Infantaria 7 foi o primeiro regimento a quem coube a honra de, logo às primeiras horas da madrugada, abandonar o quartel para tomar parte – a mais activa - no movimento nacional de 28 de Maio. Encontrava-se, então, nas Caldas da Rainha, em pleno decorrer da escola de recrutas.
Na manhã de 28 de Maio, os recrutas tinham-se aprontado para o primeiro tempo da instrução – ginástica – quando, inesperadamente e à pressa, os mandam preparar em ordem de marcha. Assim, já dispostos e formados em duas companhias, dirigiram-se, sob o comando superior do Exmº Capitão Oliveira Franco, tendo como imediato o Exmº Capitão Fernandes e dos respectivos subalternos, pela estrada de Rio Maior, onde, após um quilómetro de marcha, estacionaram. Eram 7,30 horas da manhã.
Seguidamente, em jejum quási absoluto, pois houve quem não tivesse provado o café, iniciou-se a marcha memorável, nas piores circunstâncias que se pode imaginar. Os homens não se tinham precavido, não traziam dinheiro nem comestíveis. Não tardou muito que os rigores da fraqueza e inclemências da sede se fizessem sentir sob os raios solares já dardejantes. (…) Por todos os povoados marginais à estrada, os soldados, sequiosos e fraquíssimos, acorriam obstinadamente a todas as casas, pedindo água e pão.
(…) Pelos campos faziam-se boas colheitas de favas ressequidas, que se comiam sofregadamente. A água, escassa e por vezes quási estagnada, era aspirada do fundo de algumas valetas. O calor sufocava, o pêso insuportável das mochilas quási estalava os ossos, e a poeira terrível completava a scena. (…) Este martírio atingiu o auge a uns quilómetros de Rio Maior.
(…) Finalmente transpôs-se a custo a primeira e áspera etapa, de 26 quilómetros, tal é a distância que separa Caldas da Rainha de Rio Maior.
Nesta vila, atingida e tomada às 15 horas, foi desde logo instalado o serviço de vigilância rigorosa. Satisfez-se, em seguida, a necessidade imperiosa de socorrer os homens de alimentos e mais recursos. (…) À noite, eram 21 horas, retomou-se a marcha para Santarém, distante 27 quilómetros. Em São João da Ribeira, localidade intermédia, foram prodigalizados mais recursos aos soldados, distribuiu-se-lhes pão, queijo, aguardente, etc. ( …).
A marcha prosseguiu regularmente para se suspender a 3 quilómetros da cidade escalabitana, na Quinta do Môcho. (…). Após longa marcha, os militares acabaram presos.
Passados dois dias tudo se resolve e esta coluna de Infantaria 7 recebeu ordem para seguir para Santarém. Seguidamente, são transferidos para Moscavide. Aí, ficam 40 dias. À sua partida para Leiria, foram lançadas flores e uma filarmónica acompanhou os soldados até ao embarque”.
Este texto foi retirado do jornal leiriense “O Mensageiro” de 7/08/1926. O periódico, já extinto, era propriedade da igreja e chegou a ser impresso em Rio Maior. Neste excerto, foi respeitada a ortografia da época.
Recordamos que o líder militar do 28 de Maio foi o general Gomes da Costa. Tratou-se de uma revolta que trouxe a suspensão da actividade do Parlamento. Foi o início da ditadura militar.
Houve uma grande diversidade de forças envolvidas nesta estratégia. A República entrava em decomposição e, por isso, no golpe de 28 de Maio de 1926, havia alguma elite política liberal e conservadora republicana. Mas acabou por tudo se transformar numa ditadura militar, onde a direita antiliberal e antidemocrática jogaram forte. O radical Gomes da Costa teve, aí, um papel fundamental. Acabou por ser apeado por novo golpe e ser deportado, para um exílio dourado nos Açores, onde foi promovido a marechal.
Notas finais – Usando uma linguagem simples, diremos que este movimento militar teve várias consequências, nomeadamente, a chegada de Salazar ao poder. Tornou-se Ministro das Finanças em abril de 1928, tendo sido empossado por Óscar Carmona.
Por João Maurício
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