RIO MAIOR E O NOVO HOSPITAL DO OESTE
Por João Maurício
Qualquer jornalista, mesmo amador, deve ser o mais isento possível. A verdade é que a independência pura não existe.
Depois deste pressuposto, vamos ao que aqui me trouxe.
A construção do nosso hospital do Oeste dava um livro. Os ziguezagues são velhinhos.
Antes de tudo, saúdo o Dr. José Marques Serralheiro, pessoa que já não vejo há muitos anos e que conheço bem. Meu conterrâneo, colega de trabalho na antiga Escola Preparatória da Benedita, economista de formação que optou, depois, pela carreira de administrador hospitalar, tendo passado por várias unidades do setor, nomeadamente pelo Hospital Distrital de Torres Novas.
Marques Serralheiro foi o paladino da construção do novo hospital oestino, durante muitos anos, nas Caldas da Rainha. Chegou a ser apelidado de lírico. Foi muitas vezes, uma voz solitária que parece clamar no deserto. Se calhar, andei distraído, mas não o vi ser apoiado pelos autarcas do Oeste. Recordo a ideia peregrina da câmara alcobacense que veio adquirir um terreno, em Alfeizerão, para construir o novo hospital, antes de saber onde seria a sua localização.
O autarca responsável máximo pela compra, que eu, também, conhecia bem, já cá não está entre nós, pelo que não me vou alongar nesta matéria específica.
Realizou-se, agora, um debate (11/02/2023), no grande auditório do C.C.C. das Caldas da Rainha, com um naipe de convidados e participação do público, sobre este importante assunto.
Realço a excelente intervenção do presidente da Câmara de Rio Maior que, como diz o povo, ”pôs o dedo na ferida”. Muito direto e assertivo, não se refugiou no “politicamente correto” e teve uma visão ampla da problemática.
É sempre difícil, interpretar com profundidade o que os oradores dizem. Mas a sua análise sobre a perda de população dos concelhos da província e o centralismo do poder é uma visão correta.
De facto, como disse o autarca riomaiorense, o estudo “foi feito a régua e esquadro”. É que as populações, por exemplo, de Mafra, não utilizam o atual hospital do Oeste.
Caldas da Rainha fica bem perto de Rio Maior, pelo que a construção da nova estrutura hospitalar na cidade termal, seria uma alternativa ao hospital de Santarém.
A ausência da Câmara da Nazaré neste debate só pode ser vista como taticismo político.
Entristece-me ver que a autarquia do concelho, onde nasci e vivi quase metade da minha vida – Alcobaça – se tenha mantido em silêncio sepulcral para o qual não encontro justificação nem lógica, nem racionalidade e, muito menos, explicação.
Não se entende, como disse um outro orador, o facto da antiga ministra Ana Jorge, pertencer à comissão que vai escolher a localização da nova estrutura da área da saúde. Pessoa competente e ponderada tem, contudo, pouca independência, já que pertence à família política de quem vai fazer a escolha final.
Não têm razão os que querem o hospital em Torres Vedras, já que o mesmo concelho tem uma muito maior proximidade de Lisboa e da sua área metropolitana, onde se situa uma maior oferta de cuidados de saúde.
Não se entende, também, a posição da Comissão Política Distrital do P.S.D. - Lisboa- Área Oeste que, no fundo, veio criticar a posição pública, manifestada pelos autarcas de Caldas da Rainha, Óbidos e Rio Maior.
Recuando muito no tempo, lembro-me do que se passou (um sonho), e que acabou por morrer – a criação da Área Metropolitana de Leiria. Lutas dentro dos partidos foram a causa. Mas essas “são contas de outro rosário”.
Recordamos as palavras do Diretor da Gazeta das Caldas (edição de 9 de fevereiro de 2023). - “O tema do novo Hospital do Oeste mostra a fraca resiliência existente na região. Caldas da Rainha perdeu, ao longo dos tempos, protagonismo na área da saúde, como noutras áreas, tais como na judiciária, educativa e económica”.
Fazemos nossas as palavras de Hugo Oliveira, deputado do P.S.D. (Expresso de 20/01/2023).
«… Também não menos importante, a necessidade de aliviar a carga atual existente no Hospital de Leiria que está com número de utentes bem acima do programado» (e, já agora, do Hospital de Santarém, acrescentamos nós). Refere-se o autor destas palavras à necessidade da construção do novo hospital do Oeste.
Há quem diga que o facto da Câmara das Caldas da Rainha ser liderado por um movimento independente, lhe retira capacidade negocial e força política.
Será verdade! Pensamos que a autarquia caldense está no poder há pouco tempo e, por isso, terá pouca experiência política. A ideia que passa é que, parece, acordou tarde para esta questão. Pode não ser verdade, mas lá que parece, disso não temos dúvidas.
(Continua)
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