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Periodicidade: Diária

12/22/2024

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RIO MAIOR E OS FRADES DE ALCOBAÇA


O Mosteiro de Alcobaça chegou a ter mais de noventa propriedades em Rio Maior, algumas das quais foram doações. Foi o caso de D. Urraca Fernandes, Domingos Brito e Martim Soares Trovador, só para citar estes três exemplos. Essas propriedades eram, também, casas, fornos, moinhos, vinhas e outras.

Ao referir-se às terras de Rio Maior, Fernando Duarte, estudioso deste concelho, disse que há, aqui, “qualquer coisa arrancada aos frades bonacheirões”.

Na nossa modesta opinião, este município ribatejano identifica-se mais com o Oeste. Este facto é bem visível na maneira de ser dos riomaiorenses onde, por exemplo, a tauromaquia não tem expressão, ao contrário de outras terras do Ribatejo, como Tomar, Santarém, Chamusca, Almeirim, Benavente, Coruche ou Golegã.

Há, pois, um legado cultural que se deve à Ordem de Cister que carece de uma análise profunda que está por fazer.

A ligação de Rio Maior a Alcobaça é muito antiga. Afirma, ainda, Fernando Duarte que no reinado de D. Afonso Henriques os bens dos frades “estendiam-se até Rio Maior”. Refere o mesmo autor que neste tempo “quase toda a nossa região era senhorio da Ordem de Avis, que possuía o Castelo de Alcanede. Porém, uma parte da actual freguesia, sede deste concelho, pertencia aos frades de Alcobaça”.

Alguns historiadores têm estudado este interessante tema. Destacamos a Drª Iria Gonçalves, cuja obra é bem conhecida. Referência especial para o Dr. Pedro Gomes Barbosa que se debruça sobre o assunto no estudo “Povoamento e Estrutura Agrícola na Estremadura Central”, num dos capítulos com o título “Rio Maior, Zona de Transição”. O autor dá ênfase à questão das doações.

Finalmente, o Dr. Luís Filipe Oliveira, professor da Universidade do Algarve, cujos textos têm sido uma agradável surpresa, revelando-se um profundo conhecedor da matéria e que nos parece ter uma visão inovadora sobre esta temática. Diz-nos o mesmo estudioso que nos finais do século XIII, Rio Maior começou a sua afirmação enquanto comunidade local. Esta visão remeter-nos-ia para D. Duarte, no século XV. Mas vamos cingir-nos ao que aqui nos trouxe.

O desaparecimento da aristocracia local, associado ao nivelamento progressivo dos restantes moradores, teve a ver com a extinção das corveias (trabalho duro ou serviço que o servo devia prestar ao senhor feudal, para podar ou vindimar) então exigidas pelo Mosteiro de Alcobaça. De referir, ainda, a influência de Cister presente na toponímia desta região. Por exemplo, quem passar na estrada nacional 114 (Rio Maior-Santarém), perto de São João da Ribeira, encontra uma placa com o nome “Moinho D’Ordem”. Esta indicação não é mais do que um pequeno lugar, onde existia um moinho movido a água, pertencente à Ordem de Cister.

No livro “Marinhas de Sal de Rio Maior”, da autoria de Georgette Goucha, Calado da Maia e de Fernando Duarte, de 1977, refere-se que os frades da Ordem de Cister chegaram a controlar o comércio local do sal.

Um outro livro “Alcobertas – a Serra e o Vale”, editado em 2000 pelo Agrupamento de Escolas da Freguesia de Alcobertas, refere, também, na página 13, que aquela zona “fazia parte das terras pertencentes ao Mosteiro de Alcobaça”, facto que requer um estudo mais sustentado.

Muito mais haveria a dizer, mas a crónica já vai longa. Terminamos com uma afirmação da Drª Iria Gonçalves, na obra “O Património do Mosteiro de Alcobaça nos séculos XIV e XV”, página 108, onde diz que a propriedade monástica de Alcobaça se espalhava por toda a Estremadura,” mas, sobretudo Leiria, além de várias pequenas aldeias com destaque para Rio Maior”.

Recordamos que Frei Pedro de Rio Maior foi Abade do Mosteiro de Alcobaça entre 1567 e 1570. Anteriormente, fora Abade do Mosteiro de Santa Maria, de Seiça, situado na zona da Figueira da Foz. É evidente que o “apelido” tem a ver com a origem do frade.



Notas finais – localizar as propriedades referidas não é fácil. Sabemos, contudo, que algumas se situavam na região de Malaqueijo. Existia, também, uma na Palmeira (limite de Rio Maior), uma terra de lezíria, onde o Mosteiro tinha a intenção de fazer uma horta. Há, ainda, uma referência ao lugar de Mata (pensamos que poderá ser na atual zona da feira de Santana), onde existiam terras de cereal e vinhas. Ainda, nos limites de Rio Maior, num lugar que na época se chamava Murtais, aparece um terreno composto por “mato maninho”, que a Ordem de Cister queria plantar de vinha. Tratava-se de um terreno inculto com muito mato. Fazia-se, depois, uma arroteia (limpeza do terreno), para plantar a vinha.

Confunde-se “maninho” com “baldios”. Ambos eram incultos, mas enquanto os baldios eram terrenos comunitários, os maninhos eram propriedades privadas.

É a própria Iria Gonçalves que nos diz, referindo-se às moagens fradescas, que existiam cinco em Rio Maior, pertencentes ao Mosteiro. A mesma autora, na página 279, da obra referida anteriormente, diz “ … outro veio de metal importante tinham os monges fora dos Coutos , muito próximo de Rio Maior, aliás junto a bastantes outras propriedades”.

Estamos a referir-nos aos séculos XIV e XV.

Por João Maurício


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