RIO MAIOR EM 1810
Por João Maurício
«Fujam que vêm aí os franceses!»
Nota prévia – Rio Maior está intimamente ligada às invasões francesas e à resistência contra os soldados de Napoleão.
Nos inúmeros livros que consultei escritos por historiadores muito consagrados, esta terra aparece muito referenciada. Infelizmente, ainda não surgiu uma obra específica sobre Rio Maior e as Invasões Francesas. Isto, ao contrário do que acontece, por exemplo, com Elvas, Leiria e Torres Vedras, Nazaré, Caldas da Rainha, Tavira e Abrantes, só para citar algumas terras.
O texto que aqui deixo é um modesto contributo, um alerta para que alguém mais entendido escreva um livro sobre este tema.
Os que assistiram às invasões transmitiram às gerações sucessoras as suas vivências e o que sofreram.
O povo aterrorizado fugiu. Ao saber da chegada dos franceses, os habitantes da nossa região esconderam-se nas matas altas na Serra dos Candeeiros. Mesmo, assim, os invasores mataram muita gente. Entraram nas casas abandonadas e pilharam tudo o que tinha sido deixado para trás. “Fujam que vêm aí os franceses!”, era a frase que pairava no ar.
Os homens de Napoleão violaram mulheres, vandalizaram e roubaram víveres.
A população de Rio Maior e das suas dispersas aldeias sofreu muito com esta situação.
Nos “Excertos Históricos e Coleção de Documentos” relativos à Guerra denominada da Península, por Cláudio de Chaby (Imprensa Nacional – 1871 – Lisboa, pág. 244 – diário de um oficial português), a certa altura, diz-se «De manhã cedo recebemos ordem de marcha pois os franceses tinham decidido avançar. Nessa manhã, sendo tão regular quanto devia ser, recebemos elogios dos dois marechais que por nós passaram – soubemos que na madrugada tinha havido um choque entre a nossa cavalaria e a dos franceses, uma légua antes de Leiria. Fizemos “alto” num campo perto dos Carvalhos (atualmente- Pedreiras - Porto de Mós). Tivemos, neste dia, a notícia de que o resultado do combate da véspera para os franceses foi perder um coronel e dois capitães que foram feitos prisioneiros e alguns soldados feridos. Continuámos a marcha até Rio Maior, onde permanecemos até ao outro dia».
De realçar que, após a Batalha do Buçaco (27/Setembro/1810), o exército anglo-português iniciou a retirada para as Linhas de Torres.
Reuniu-se em Leiria a 6 de outubro. Aí, dividiram-se em três partes: uma, seguiu para Tomar - Santarém; a outra, para Alcobaça - Óbidos e a terceira, para Rio Maior - Alcoentre.
Atrás, vinham os franceses que saquearam Coimbra. Acamparam entre os Moleanos e os Candeeiros (Benedita).
Até aqui, as referências feitas têm a ver com a terceira invasão. De referir ainda, que, por exemplo, uma brigada do exército inglês esteve acantonada na Marmeleira que, na época, pertencia à freguesia de São João da Ribeira.
Também uma outra brigada da cavalaria inglesa assegurou a vigilância dos caminhos de Rio Maior para Alcanede e Pernes, itinerários, na época, importantes. O Batalhão de Caçadores 6 patrulhou as estradas que, de Rio Maior, seguiam para Alcanede e Santarém.
Recordamos que todas estas movimentações militares aconteciam numa linha de defesa contra os franceses que passava por Santarém, Rio Maior e Óbidos.
Notas finais – tudo o que aqui ficou escrito são, apenas, dados soltos sobre Rio Maior e as Invasões Francesas. Muito ficou por contar. Por exemplo, o incidente acontecido com o general Junot, na zona do Gato Preto, é uma longa história que, infelizmente, tem sido contada com algumas imprecisões.
Ficará para outra altura aprofundar o tema.
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