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Periodicidade: Diária

12/22/2024

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RUY BELO E A NOSSA REGIÃO


O triângulo geográfico Alcobaça, S. João da Ribeira e a Praia da Consolação é uma presença muito forte na obra de Ruy Belo.

António José Saraiva, um dos maiores estudiosos da Literatura Portuguesa, era um profundo conhecedor da temática inesiana. Há mais de quarenta anos, durante as aulas de Cultura Portuguesa, fez uma viagem vertiginosa pela obra de Ruy Belo e pela sua ligação, em termos poéticos, aos túmulos de Alcobaça. Foi, para nós, discentes, um fascínio ouvirmos o mestre abordar as virtudes da escrita de um dos maiores poetas portugueses da segunda metade do século XX, que nesse tempo era ilustre quase desconhecido, fora dos meios académicos.

Estamos perante um artífice de uma poesia subtil e melancólica, angustiante e coloquial, com um pouco de ironia que balança entre o romantismo e o realismo.

Ruy Belo era, como ele próprio dizia, um vencido do catolicismo, com crises de fé, mas com ligações ao sagrado.

De um dos seus colegas da escola primária, ouvi retratá-lo como um homem simples e alegre, mas a verdade é que a sua poesia é difícil e, aqui e acolá, impenetrável.

Na sua obra “A Margem da Alegria”, escreve «que tudo o mais se esqueça na presença do mosteiro de Santa Maria de Alcobaça». Aí, aparece, de maneira clara, a história de Pedro e Inês, o resumo das suas vidas.

Pedro é alguém inquieto que surge na sua faceta de homem e não de monarca, à procura de respostas para as suas dúvidas.

Inês é retratada como uma mulher que desafiou o convencional. Devido à sua morte trágica, transformou-se num mito «E vã é a palavra do poeta / se não atenuar a dor da vida e preparar a serenidade visual na eminência do futuro».

No fundo, este livro-poema é uma epopeia, não no sentido das regras clássicas, mas dado ter um herói e um anti-herói e por abordar um tema que tem a ver com o coletivo do ser humano.

Levar-nos-ia muito longe este assunto, mas vamos ficar por São João da Ribeira, onde o poeta nasceu, em 1933, numa casa simples, filho de professores primários.



A aldeia enche a sua poesia.

«Esperava que a minha mãe se acabasse de arranjar para irmos todos/ ao som dos guizos e do trote do cavalo à Feira de Rio Maior».

«Quero ir ao Vale Barco, a Malaqueijo, à Marmeleira roubar melões».

«Quero a casa do forno onde eu me escondia dos relâmpagos».

«Quero em Dezembro o varejo final da azeitona».

Finalmente, a dada altura, aparece a Praia da Consolação, onde passava férias e que ele tão bem retratou.

O poeta tinha uma forma muito própria de estar na vida. Quem o conheceu afirma que era pouco dado ao cerimonial. Talvez, por isso, tenha sido ostracizado, principalmente, pelo mundo universitário, mas a sua áurea transformou-o numa das grandes estrelas da Literatura Portuguesa e o tempo colocou-o no lugar cimeiro onde está!

Por João Maurício


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