RÉQUIEM POR UMA CANDIDATURA MAL ANUNCIADA
Recentemente, no exercício dum direito que inegavelmente lhe assiste, o militante João de Deus anunciou a sua candidatura à liderança da concelhia do PSD.
Fê-lo, invocando os laços que o uniam a Isaura Morais: “Somos amigos desde crianças e tenho um enorme orgulho na Isaura.” Fê-lo, reconhecendo a Isaura como sendo “a nossa maior referência”. Mas fê-lo escondendo da mesma Isaura Morais a sua pretensão e a quem, apenas minutos antes de a ter anunciado na imprensa local, lhe deu envergonhada nota.
E demonstrando insuspeitas capacidades premonitórias anunciou, em primeira mão, para a sua amiga (e referência) Isaura Morais, o fim do seu ciclo político no Conselho de Rio Maior. Em paralelo com esta inusitada tentativa de assassinato político, anunciou a imediata ressurreição da quase defunta, apresentando-a como a sua (dele!) candidata a Presidente da Assembleia Municipal (esquecendo que a ideia nem sequer é dele), tudo por obra, bondade e engenho de Deus, o João,
E não para de nos surpreender.
Confrontado com a nega da sua amiga e referência em apoiar a clarividente visão deste temerário candidato, muda rapidamente de agulha e referência: “A minha maior referência pessoal na política é um grande senhor: Marcolino Duarte. Ele foi presidente da Freguesia de Alcobertas. Um homem bom, honesto, trabalhador e dedicado à sua terra. Conheci poucos assim.”
E, quando questionado sobre se admitia retirar a sua candidatura na eventualidade da Isaura Morais se recandidatar à liderança da concelhia do PSD de Rio Maior, disse de forma taxativa: “ É um cenário que não se põe. A Isaura é vice-presidente de Rui Rio. O seu patamar já não é local, é nacional. As preocupações são outras, de outro nível. Sobretudo, desde que é deputada e deixou a presidência da Câmara de Rio Maior.”
Mata, ressuscita, referencia, deixa de referenciar, mas, vá lá, sabendo que sem a muleta da Isaura Morais o espalhanço era seguro, continuar a querê-la como candidata para a Presidência da Assembleia Municipal, não obstante alardear que o patamar da sua putativa candidata já não é local e que as preocupações são outras, que não as dos Riomaiorenses.
Que clarividência! Resolve candidatar-se (melhor ficaria dizer, outros resolvem candidatá-lo), esconde ardilosamente esta intenção da sua grande amiga e referência e, à cautela, não vá o diabo tecê-las, tenta assassinar local e politicamente a pessoa cujo percurso muito o orgulha, contrapondo este mesmo percurso, que antes tanto elogiara, ao do “homem bom, honesto, trabalhador e dedicado à sua terra” que inegavelmente é o Sr. Marcolino Duarte, para, finalmente, tipo medalha de consolação, dizer que quer eleger em 2021, como presidente da Assembleia Municipal, a tal pessoa cujas preocupações já são outras, cujo ciclo politico no concelho de Rio Maior acabara.
Elucidativo, quanto basta! …
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Lamento que o João de Deus se tenha predisposto a desempenhar este papel numa peça de teatro, de má qualidade, cujo dramaturgo só lhe contou parte do enredo.
Sejamos claros: o João não é apenas uma boa pessoa. É uma excelente pessoa. Mas até as melhores pessoas do mundo cometem erros e, quantas vezes, graves. O João tem ambições políticas. Tem todo o direito a elas. E até ter sido metido nesta tragicomédia, eu próprio achava que tinha possibilidades de as concretizar. Mas agora, perante o ardil, o jogo na sombra, a ausência de frontalidade e, porque não dizê-lo, perante a inconfessada traição, deixei de rever no João de Deus o perfil que antes lhe reconhecia.
E, para além do mais, demonstrou uma clara e inaceitável ausência de visão política. E não é com o conjunto de chavões políticos sobre aquilo que diz ser o seu pensamento e intenções, que esconde essa falta de visão.
Se o João, como diz, pretende o melhor para o PSD de Rio Maior, teria de ter a capacidade de perceber que a melhor solução para a concelhia passaria sempre, mas sempre, pela recandidatura da Isaura Morais. E não defender isto, é esquecer a oportunidade irrepetível de ter como presidente da concelhia uma deputada à Assembleia da República que, simultaneamente, é Vice-Presidente do próprio PSD e foi, o que me parece inquestionável, o melhor Presidente de Câmara que Rio Maior alguma vez teve.
Se os interesses do João de Deus fossem os que defende então cabia-lhe a ele, caso a Isaura Morais hesitasse na sua recandidatura, o que não aconteceu, tudo fazer para a convencer a recandidatar-se ao lugar ora cobiçado pelo João e anónimos apoiantes deste.
Mas o João não fez nada disto. E quando confrontado com a recandidatura da Isaura Morais, a mesma que ele garantiu não ir acontecer, em vez de a aplaudir, congratular e a ela se unir, manteve, sem conseguir justificar porquê, a intenção de se candidatar, revelando uma manifesta incapacidade em se opor aos seus anónimos mentores, numa posição no mínimo confrangedora.
Sejamos objectivos: o João, embora não o tenha percebido, é apenas um trampolim para os que, sem sucesso, tentaram sentar-se à mesa do poder enquanto a Isaura foi Presidente da Câmara. E essas pessoas, os tais mentores anónimos, os inconfessados dramaturgos dum guião mal gizado, já perceberam que com Luís Filipe Santana Dias continuarão justamente arredados dessa mesa. E assim se percebe a dicotomia do discurso: “O João Rebocho tem sido um bom presidente e é de inteira justiça que volte a ser candidato.” E, logo de seguida, “Sobre o Filipe Santana Dias, já tenho dito que, em circunstâncias normais, deve ser ele a encabeçar a lista do PSD à Câmara de Rio Maior.”
Vamos falar sério: só o projecto iniciado há quase doze anos atrás permitirá manter o concelho de Rio Maior na senda dum desenvolvimento sustentado, sem hipotecar o futuro em nome dum imediatismo eleitoralista, fácil e irresponsável. Esta foi a marca indelével da liderança de Isaura Morais nos anos que esteve à frente da Câmara Municipal de Rio Maior, projecto esse agora liderado, com o seu estilo e visão própria, pelo Luís Filipe Santana Dias.
O Luís Filipe é o garante da continuação dum trabalho e dum projecto cívico nos quais me revejo e aplaudo.
O Luís Filipe constitui, pelo seu carácter, empenhamento, independência e capacidade de intervenção, uma inequívoca garantia de que continuaremos a ter autarcas críticos, motivados, desafiantes e interessados, qualidades indispensáveis à luta e defesa dos interesses dos munícipes, em detrimento de autarcas acéfalos e seguidistas que se limitam a cumprir as ordens da estrutura partidária onde se inserem e a sentar à mesa do poder uns quantos habilidosos que nada têm para oferecer senão a sua inconfessada ambição e, quantas vezes, incompetência.
O Luís Filipe e a Isaura Morais têm idoneidade. Têm competência. Têm vontade. Têm lucidez. Têm espírito de serviço. Têm uma visão abrangente da sociedade e das rápidas modificações a que assistimos.
Que melhor equipa poderíamos ter? O Luís Filipe a liderar a Câmara Municipal. A Isaura Morais a liderar a principal força política concelhia.
Não ter esta visão, é não ter visão nenhuma. E, como sabiamente diz o povo, o pior cego é o que não quer ver.
Vá-se lá saber porquê!
Artigo de Opinião de António Arribança
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