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Periodicidade: Diária

11/1/2024

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SIMPLESMENTE NATAL



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Por João Maurício

Natal deve ser tempo de reflexão. Natal, dia de pausa, dia de inocência em que se decreta a unidade familiar, a esperança, um convite à fantasia, à esmola que se dá ao pobre. Natal é o presente que se oferece aos filhos, aos netos e amigos. Natal é mesa farta com muitos doces. Hoje, é também a época do consumismo e do solstício de inverno.

Mas que Natal é este em que a fome se instala em África e as prisões estão cheias? Que Natal é este em que se ouvem os sons das metralhadoras? Neste Natal a pena de morte é, ainda, uma realidade nos Estados Unidos da América! Que Natal é este, quando há seres humanos sofrendo tanto, que faz lembrar o que Dante ”viu” na descida aos Infernos?

Não há Natal, quando a liberdade está mutilada como sucede, por exemplo, na China, na Rússia e no Afeganistão. Que Natal irão ter os sacrificados povos do Biafra ou da Eritreia? Que Natal irão ter os povos da Palestina e de Israel? Que Natal iremos ter todos nós, quando nos lembrarmos de tudo isto?

Os que não acreditam dizem que o Menino que nasceu nas palhinhas não corresponde à realidade. Seria, apenas, uma lenda maravilhosa. Mas a verdade é que todos os dias nascem muitos Meninos Jesus tão pobres como o filho de Maria.

Recordo-me dos Natais passados na tropa que eram tristes e amargos. Recordo-me dos pedintes que andavam de terra em terra, dormiam nos palheiros e a quem, pelo Natal, se dava um prato de sopa. E de tantos e tantos Natais passados entre Aveiro e Coimbra! E de tanta gente que já partiu! Por isso, uma nostalgia e uma doce tristeza invade-nos, neste momento.



Júlio Dinis tem um texto maravilhoso sobre o “desarmar” do presépio.

Escreve o escritor «cerrava-se-me o coração, ao ver guardar outra vez na arca - e por um ano – o Menino Jesus, Nossa Senhora, S. José …». Ramalho Ortigão retrata-nos tão bem o Natal Minhoto, onde, noutros tempos os carrilhões das igrejas replicavam festivamente.

Cada região deste pequeno país tinha (ainda hoje tem) as suas especialidades natalícias, nomeadamente as azevias de grão no Alentejo, as rabanadas no Minho, as filhós nas Beiras, os coscorões na Estremadura e Ribatejo, tradição esta deixada pelos árabes.

Recordo-me, a propósito, de um Natal passado num país árabe, com calor, sem presépios, mas algumas árvores de Natal e enfeites luminosos nas avenidas. Os camelos faziam-nos, também, recordar a quadra bíblica. No Natal, para nós, era estranho ouvir-se o chamamento para a oração nas mesquitas.

O poeta António Gedeão diz-nos que “o Natal é o dia de ser bom, de meditar sobre a nossa existência”. Os espanhóis chamam-lhe a “noche buena”.

Sem querer ser saudosista, direi que o Natal noutros tempos tinha outro encanto. A rotina do quotidiano levava-nos a valorizar as pequenas coisas, como receber um brinquedo de madeira. Até os tradicionais postais de Natal coloridos, com mais ou menos neve, quase que desapareceram. Hoje, restam-nos as mensagens trocadas entre nós.

Numa época em que não havia supermercados nem centros comerciais, a vida girava doutro modo, na pacatez do dia a dia. Nessa época, realizava-se a matança do porco. Nos quintais, cheirava a fumo das lareiras e a chamusco, e as salgadeiras estavam preparadas para se encherem de carne fresca que se ia consumindo durante um ano.

O Natal deve ser, antes de tudo, tempo de pausa, de bondade, de bonitos sonhos! No Natal acreditamos no Homem Novo, segundo a mensagem do Evangelho. A verdade é que, passados dois milénios, o Homem continua a ser Velho.

Que ao menos, o Natal seja tempo de paz!



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