VENDA DAS RAPARIGAS – AQUI TÃO PERTO!
Anúncio de 1949
Por João Maurício
Capítulo I
A povoação chamada Venda das Raparigas, situada mesmo no sopé da Serra dos Candeeiros, é falada pelo sentido pitoresco do seu nome. Ali, numa curva ligeira onde fica a casa do Sabino, no sentido Norte-Sul, acaba a Estremadura, o distrito de Leiria, o concelho de Alcobaça e a freguesia da Benedita. Aí, começa o Ribatejo, o distrito de Santarém, o concelho e a freguesia de Rio Maior.
No sentido geral, a terra sempre foi pequena, pacata, sem nada de especial a referir.
Mas recuemos no tempo.
À volta do topónimo “Venda das Raparigas” construíram-se duas teorias. A primeira defendida por alguns autores que opinam que se tratava de uma “mancebia medieval”; outros, sobre esta mesma visão, usaram a expressão “famosa e tenebrosa”, segundo Serra Frazão, na obra “Porto de Mós – Breve Monografia”. Quer isto dizer que os textos escritos se inclinam para uma questão de prostituição. Curiosamente, Serra Frazão chegou a ser professor primário em Rio Maior e, por isso, conhecia bem a nossa região.
A outra versão é a da tradição popular que, por via oral, chegou aos nossos dias. Após a construção da Estrada Real D. Maria I, os almocreves passaram a frequentar aquela venda, a qual seria apenas uma taberna. O proprietário era ajudado no atendimento pelas filhas e daí, o nome do seu estabelecimento. A tal venda seria uma casa isolada.
A verdade é que na documentação anterior a 1911, que consultámos, não há qualquer referência ao lugar chamado “Venda das Raparigas”. Pelo que se conclui que este lugar terá pouco mais de um século de existência. A aldeia mais próxima chama-se “Ninho de Águia” e já existia no século XVII.
Aquela área pertencia a Rio Maior até 1532, ano em que foi criada a Paróquia e, consequentemente, a freguesia da Benedita. A zona esteve, durante vários séculos, numa situação dúbia: pertencia à Paróquia da Benedita, mas mantinha uma ligação eclesiástica com a Igreja Matriz de Rio Maior, já que os moradores tinham de ir aí, em várias festividades, nomeadamente, na Páscoa, Natal e Espírito Santo e onde, também, iam pagar os dízimos. Em 1882, a Câmara de Alcobaça, alegando a nova divisão territorial efetuada em 1836, veio confirmar que “toda a freguesia da Benedita ficou sendo parte integrante do nosso concelho de Alcobaça”. Esta realidade foi-se consolidando com o passar do tempo, sem grandes sobressaltos.
Terra com pouca História, teve em José Luís Grazina, até aos anos sessenta do século passado, a sua figura maior. Este comerciante deixou marcas na memória das pessoas. A sua loja, existente desde o princípio do século XX, ficou famosa pela diversidade de produtos que ia dos tecidos, cereais a adubos e muito mais.
Chegou a ter três galeras em serviço permanente, quer para abastecer a loja, quer para entregar mercadorias em casa de clientes, em alguns casos, em lugares distantes. Foi proprietário de um grande forno de cal.
No tempo da Segunda Guerra Mundial, época de grandes carências, empregou muita gente nas arroteias. Tratava-se de um método agrícola ancestral, efetuado no sopé da Serra, que consistia em limpar os terrenos onde havia mato, tornando-os aptos para a atividade da lavoura.
(Continua)
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