VENDA DAS RAPARIGAS - AQUI TÃO PERTO!
Por João Maurício
I I I (Conclusão)
No ano 2000 (dois mil), a Venda das Raparigas esteve na ordem do dia. O ministro João Cravinho anunciou a construção de uma via rápida “novinha em folha” que se iniciava aqui (Venda das Raparigas) e terminava nos Moleanos.
Carlos André, na altura Governador Civil de Leiria, ampliou a ideia e referiu que seria uma realidade. Foi mais uma promessa que, passado quase um quarto de século, continua no papel. A terra era um lugarejo perdido no sul do distrito de Leiria. Começou a ser falada, quando nos meados do século passado, uma empresa de Braga abriu a estrada que a ligou a S. Jorge.
Para quem seguisse para o Norte, deixou de ser necessário ir a Alcobaça.
Mentes “iluminadas”, ligadas ao Salazarismo, criticaram a obra. Estranha noção de progresso!
Ao contrário do que se pensa, Venda das Raparigas não é uma terra antiga. Terá, no máximo cento e cinquenta anos e poucas histórias para contar. Povoação pequena, com umas trinta ou quarenta casas e, creio, dois restaurantes e algum comércio variado. Um lugar de passagem e menos de paragem. Em tempos recuados, por ali passavam os toiros conduzidos por hábeis campinos, que das ganadarias ribatejanas seguiam para as touradas da Nazaré, sempre em setembro. Era ali, que com toscas varolas se improvisava um cercado onde o gado bravo pernoitava e homens e cavalos faziam o mesmo.
Gente simples. Recordo-me do José Inácio Neves, dos meus tempos de tropa, natural deste lugar. Passou pelo Regimento de Cavalaria nº 3 de Estremoz. Perdeu a vida no “inferno da Guiné”, faz brevemente cinquenta anos.
Curvo-me perante a sua memória.
A povoação, devido ao tipicismo do seu nome, passou a ser conhecida. Algumas figuras públicas foram escrevendo umas “graçolas” sobre a terra, como foi o caso de Miguel Sousa Tavares e Miguel Esteves Cardoso.
Venda das Raparigas é um nome estranho e, por isso, inventaram-se histórias que não correspondem à verdade. O lugar deveria pertencer à vizinha povoação de Ninho de Águia e, daí, a falta de documentação sobre o tema. E, quando não há textos escritos, a imaginação popular funciona e o rigor histórico desaparece.
A teoria da mancebia parece não ter lógica e nenhuma verdade histórica.
Não seria normal existir uma casa dessas em pleno território dos Coutos de Alcobaça, administrados pela Ordem de Cister. Os grandes estudiosos da história dos Coutos, nomeadamente a Professora Drª Iria Gonçalves e o Dr. Rui Rasquilho, não se referem ao tema. Ao que sabemos, as mancebias existiam nos centros urbanos e não nos pequeníssimos aglomerados rurais.
No Mapa Topográfico da Estrada Dona Maria I, não aparecem nenhumas notas sobre a Venda das Raparigas, pelo que, é quase certo, que a terra não existia, nos finais do século XVIII.
Ao contrário, aparecem referências aos lugares vizinhos de Ninho de Águia e Moita do Gavião que, até meados do século XVI, pertenciam a Rio Maior e, atualmente, são lugares integrados na freguesia da Benedita.
Terminamos, referindo a excelente obra “A Estrada de Rio Maior a Leiria, em 1791”, do investigador Ricardo Charters d’Azevedo, editada em 2011.
O autor não faz nenhuma alusão à eventual existência de Venda das Raparigas.
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